segunda-feira, 2 de abril de 2007

Lixo e cultura têm o mesmo destino em Paraty: o ABANDONO


Paraty (RJ) - A pretensão é se tornar uma cidade Patrimônio da Humanidade, mas do jeito que a atual administração lida com assuntos importantes como cultura e lixo, vai conseguir, no máximo, mais uma ação no Ministério Público. O esgoto que percorre as valas negras, na cidade, são despejados no mesmo mar que se banham turistas e moradores. O mal-cheiro é outro ponto negativo na cidade, que continua à espera do saneamento. Pra piorar a situação, o município, que já recebeu importantes eventos, não tem mais qualquer relação com a cultura. Hoje, cultura e lixo têm o mesmo tratamento em Paraty: o abandono.


Eventos culturais acabaram em Paraty


"A classe política tem solução para tudo na língua, mas na prática faz muito pouco". A avaliação é do ex- prefeito José Claudio, que faz uma análise da atual gestão do município e diz que, agora, com dinheiro em caixa, é mais fácil administrar Paraty. Fala sobre a dificuldade de conciliar interesse no que se refere preservação e desenvolvimento. Ele se diz um lutador e é criticado pela sociedade civil. Enfrentou embargos, multas e perseguição política para tirar Paraty do ostracismo e levá-la ao conhecimento da mídia internacional. "Transformamos em positivo todo fato negativo dos opositores e o resultado foi parar em Nova York, através de palestras proferidas sobre os projetos de susten-tabilidade. O trabalho sobre energia solar das comunidades caiçaras se transformou em tema do Globo Repórter, Globo Ecologia e Globo Ciência", observa.


Prejuízo - José Claudio lembra que na época, a baixa temporada ficou bastante e-quilibrada com o calendário de eventos, principalmente com a Festa Literária Internacional (FLIP) e a Casa de Cultura. "Tivemos um grande fluxo de turistas nacionais e internacionais um turista diferente, que realmente tem bom gosto, que gosta de patrimô-nio histórico e de atividades culturais", declara.
O ex-prefeito lamenta o fim dos eventos culturais patrocinados pela prefeitura como os Festivais de Cinema e de Música Sacra o que resultou num prejuízo cultural para a cidade.
Mau cheiro - Até algum tempo a cidade era famosa pelo seu mau cheiro. Os navios de turismo não aporta-vam por causa do odor insuportável e da falta de estrutura. "Felizmente conseguimos fazer a limpeza da orla marítima, graças ao apoio e interesse de alguns empresários", diz.
Apesar do esforço, o mau cheiro ainda exala pela cidade à espera de saneamento a-dequado. No governo "Garotinho", foram liberados R$ 15 milhões para o saneamento básico em parceria com a CEDAE. "O projeto encaminhado para análise da Câmara de Vereadores não teve resposta e acabamos perdendo a verba, que resolveria o problema de esgoto. Houve impedimento político na época, e por causa desta disputa de poder, muitos projetos não foram concluídos", lamenta.

Continuidade - "O atual prefeito pegou o município em total andamento e agora pode desfrutar da sede da prefeitura porque eu construí com muita dificuldade, enfrentando uma série de problemas. Tivemos um desgaste grande porque Paraty é uma cidade onde as pessoas atuam muito, falam muito, mas têm pouca ação. A classe política tem solução para tudo, na língua, mas na prática fazem muito pouco".
O ex-prefeito disse, ainda, estar surpreso "com o nosso governante, Zezé, que apesar de ser de oposição, deu continuidade aos projetos e convênios da minha administração. O município recebe hoje cerca de R$ 1 milhão e meio, mensal de royalty de petróleo, isso torna mais fácil a conclusão dos projetos", afirma.

Lixão - A sua administração recebeu R$ 109,800 de recursos para fazer o Pró-Lixo, mas não prestou contas nem resolveu o problema do com a verba destinada. José Claudio diz que fez coleta seletiva, e que infelizmente acabou. Foram distribuídas 50 mil cartilhas para conscientizar os alunos, mas no conteúdo, que segundo ele serviria de educação ambiental, nenhuma solução foi apresentada para o destino final dos resíduos sólidos apesar de mostrar fotos da continuidade do crime ambiental.

Desrespeito - O patrimônio histórico de Paraty não está sendo preservado de forma sustentável. A poluição visual nas vias públicas é notórica. O calçamento com as famosas e centenárias pedras- pé-de-moleque, está descaracterizado. A retirada das pedras para a passagem do cabeamento subterrâneo, resultou no sumiço de várias pedras o que é visivelmente observado, pois o espaço foi preenchido com areia. As praças não oferecem conforto. O paisagismo nos logradouros públicos é inexistente. Falta manutenção na estrutura do cais e na restauração dos prédios tombados.